O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou
ontem o nono levantamento da safra de grãos 2011/12 apontando que a
estiagem castigou a produção em geral no Brasil, com queda de 20,2 % em
relação à safra passada, ou seja, de 3,2 milhões de toneladas de
produtos, basicamente milho e feijão. No Semiárido, as perdas foram
superiores a 80%. Somente no Rio Grande do Norte, a redução ficou em
89,6% para o feijão e 91,9% para o milho. No Ceará, houve queda de 84,7%
e de 87%, respectivamente.
O agricultor potiguar vem sentindo o baque da seca em culturas como o milho: prejuízos
Segundo o Mapa, a forte estiagem registrada na região do Semiárido nordestino causou perdas expressivas na pecuária e na agricultura. As culturas de feijão e de milho se apresentam nas mesorregiões Litoral Leste e Agreste do Rio Grande do Norte, Sertão e Alto Sertão da Paraíba, Agreste de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Nordeste da Bahia.
OTIMISMO
Mesmo com os números negativos, o Mapa trabalha com indicativos de que ainda haverá safra nas áreas litorâneas, porque o período de plantio só se encerra no mês de junho.
Levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta para uma safra de 161,23 milhões de toneladas de grãos no país, com um crescimento de 53,1% na produção do milho segunda safra, o equivalente a 11,42 milhões de toneladas (t), que terminou ajudando no desempenho do período.
Por considerar que as condições climáticas favoráveis e o fato de a colheita já ter se iniciado nos principais estados, o governo acredita que a produção desta cultura, no próximo levantamento, seja ainda superior à previsão atual. A produção total de milho, primeira e segunda safras, é estimada em 67,79 milhões de toneladas, superando a de soja, com 66,37 milhões de toneladas.
Apesar do crescimento da produção de milho segunda safra e do impacto na produção total de grãos, o estudo aponta retração de 1 % se comparado aos resultados da safra 2010/11 no mesmo período, quando atingiu 162,80 milhões de toneladas. Esse resultado representa uma redução de 1,57 milhão de t.
O recuo se deve, principalmente, às condições climáticas não favoráveis, principalmente, no período entre 15 de novembro/2011 e 15 de janeiro/2012, que afetaram mais as lavouras de milho e de soja, sobretudo nos estados da região Sul, parte da Sudeste e no sudoeste de Mato Grosso do Sul. Outro motivo desta diminuição foi a estiagem nos estados nordestinos, que causou perdas em todas as culturas.
A estimativa total de área plantada no país é de 51,05 milhões de hectares, 2,4% maior que a cultivada na safra 2010/11, de 49,87 milhões de ha. Isto representa um aumento de 1,17 milhão de hectares.
Governo estuda reajuste do leite
O diretor geral do Instituto Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RN), Ronaldo Cruz, confirmou que está em discussão o pleito dos pecuaristas do estado de reajuste de preços do leite fornecido ao governo. Ele também disse que o Estado estuda a possibilidade de comprar leite em pó para distribuir a idosos, nutrizes e crianças carentes. A medida seria necessária por conta da quebra em 40% do fornecimento do leite pelos dois consórcios contratados pelo Estado, que não estão, segundo ele, dando conta da produção por causa da estiagem: "O que não pode faltar é leite para os beneficiários do Programa".
Ronaldo Cruz diz que a cadeia produtiva do leite defende o reajuste no valor de compra do governo para o programa, mesmo que no fim de maio o preço tenha passado de R$ 0,80 para R$ 0,83, por decisão da governadora Rosalba Ciarlini.
Cruz explica que a política de preços para o Programa do Leite, que é executada nos nove estados do Nordeste e norte de Minas Gerais e no Espírito Santo, é decidida pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).
Segundo Cruz, os preços praticados pelo governo são direcionados a uma política de fomento "e o MDS está estudando um ajuste de preços". Porém, continuou ele, o preço não pode ser o mesmo de mercado, como defendem os agropecuaristas.
Previsão de chuva não afasta pessimismo
A expectativa do presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Note (Fetarn), Ambrósio Lins do Nascimento, não é otimista com relação a produção agrícola na região leste do Estado, mesmo que chova até agosto."No Agreste já se sabe que, se houvesse inverno, ainda era época de chuvas, mas, se chover agora, também não vai amenizar a fome do pessoal dessa região", disse Ambrósio Lins.
Mesmo que chova nesses dois meses, o presidente da Fetarn ainda acredita que a colheita da safra não chegue a 30% do plantio de mandioca e feijão, típica da região Agreste: "Nas outras regiões a safra não chega a 10%".
Já os agropecuaristas potiguares ainda esperam salvar até 60% do rebanho bovino no Estado. Os meteorologistas da Emparn preveem que o inverno nas áreas Leste e Litoranea do Rio Grande do Norte seja normal. O presidente da Associação Norteriograndense de Criadores (Anorc), Marcos Teixeira, acredita que "ha esperanças, agora, se não chover, só Deus sabe como vai ficar".
Marcos Teixeira estima que as perdas do rebanho fiquem limitadas a 40%, uma vez que criadores de outras regiões já estão alugando pastagens na região Agreste ou comprando bagaço de cana-de-açúcar para "escapar" com o gado vindo da região semiárida, na tentativa de amenizar os efeitos da estiagem. O obstáculo é o custo. O bagaço de cana, que é desperdício para usina de açúcar e álcool ou é usado para geração de energia, está sendo vendido a R$ 100,00 a tonelada para os agropecuaristas darem como forragem para o gado. "Para fazer o açúcar, as usinas compram a cana ao produtor por R$ 67,00 a tonelada".
O presidente Anorc disse que a associação de classe não tem força para rever a situação de crise no setor agropecuário, provocado pela estiagem. "É preciso força política para isso, o que não está existindo, porque o governo está mais preocupado com eleição". Ele também criticou a informação de que o Governo vai adquirir "leite em pó para distribuir às famílias carentes", enfraquecendo ainda mais o setor.
O chefe do Setor de Meorologia da Emparn, Gilmar Bristot, explicou que mesmo em períodos normais de inverno, "sempre há ocorrência de veranicos" na região Agreste entre fim de maio e começo de junho. No entanto, Bristot informou que a partir do meio desta semana, "ocorra uma incidência maior de chuvas, porque as condições no oceano e de vento estão normais
Tribuna do Norte.
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