Brasília - A identificação de uma nova espécie de praga nas lavouras de
milho no Brasil mobilizou um grupo de pesquisadores da Embrapa (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária) a criarem ações emergenciais para
controle da Helicoverpa armigera, muito próxima de uma espécie mais
comum e já conhecida pela maioria dos agricultores, a lagarta-da-espiga,
ou Helicoverpa zea. A Helicoverpa armigera surgiu nesta safra de 2013 e
já causou prejuízos superiores a R$ 2 bilhões, principalmente em
lavouras de soja e algodão. A praga também atinge o milho.
Não se
sabe ao certo como ela entrou no Brasil. A hipótese mais provável é que
tenha sido em flores ou plantas ornamentais. Mas o fato é que a praga
agora está no país e pode causar danos a mais de 30 culturas, incluindo:
soja, laranja, algodão, quiabo, cebola, melão, morango, batata doce,
alface, tomate, maçã, feijão, batata e milho, entre outras, segundo a
Embrapa. As ocorrências de maior severidade, até agora, foram
registradas no Oeste da Bahia, causando perdas elevadas na
produtividade, mesmo com a aplicação de inseticidas químicos.
Na cultura do milho, a Helicoverpa armigera geralmente põe os ovos sobre o “cabelo” da espiga
Segundo o pesquisador Ivan Cruz, do Núcleo de Pesquisa em Fitossanidade
da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), as diferenças entre essa
espécie e a lagarta-da-espiga são muito sutis. “Não são facilmente
separadas visualmente. As diferenças estão na genitália das duas
espécies”, diz. De acordo com ele, a Helicoverpa armigera é muito severa
em países da Ásia, África e Austrália e tem como hospedeiros as
seguintes culturas: milho, soja, algodão, sorgo granífero, painço,
girassol, cereais de inverno (trigo, aveia, cevada e triticale),
linhaça, grão-de-bico, feijão e culturas hortícolas, como cerejas,
tomate, pepino e frutas cítricas.
Resistência
Cruz
reforça que o que torna a praga importante e severa é o fato de possuir
alta mobilidade, polifagia e alta taxa de reprodução. “Um problema
agravante ao manejo da praga tem sido também o desenvolvimento da
resistência aos inseticidas, fato já documentado na literatura,
especialmente em relação a piretroides sintéticos, embora já haja
registro de resistência a outros grupos de compostos, como carbamatos e
organofosforados”, explica o pesquisador.
Os ovos da Helicoverpa
armigera são geralmente postos sobre o “cabelo” do milho, assim como a
espécie H. zea. “Ao eclodir, as larvas consomem os grãos em
desenvolvimento e, além desse dano direto, são comuns as infecções
bacterianas secundárias”, alerta Cruz. De acordo com o pesquisador, as
larvas também podem se alimentar das folhas do cartucho, das folhas mais
desenvolvidas na planta e do pendão.
Uma das características que
tornam essa lagarta ainda mais severa é seu ciclo de vida, que é em
torno de um mês, o que permite a existência de várias gerações anuais e
contínuas, especialmente nas áreas mais quentes.
Pesquisadores apostam no controle biológico
Segundo
o pesquisador Fernando Hercos Valicente, do Núcleo de Biologia Aplicada
da Embrapa Milho e Sorgo, estão sendo identificados genes promissores
de Bt (Bacillus thuringiensis) que possam ter eficiência comprovada
contra a Helicoverpa armigera. “Estamos iniciando os testes e podemos
ter algum sucesso no controle da praga”, antecipa. Segundo ele, a
próxima etapa é a multiplicação dos agentes por biofábricas, primeiro em
escala piloto, fase que deve ser feita por atores que tenham interesse
na tecnologia desenvolvida pela Embrapa.
Ivan Cruz reforça que o
principal agente de controle biológico, para liberação em nível de
campo, para o controle de ovos de diversas espécies de Lepidoptera são
as vespinhas do grupo Trichogramma, um inseto diminuto, porém com alta
eficiência no controle das pragas.
“A liberação desse agente de
controle biológico deve estar associada com armadilha contendo feromônio
sexual que, ao ser utilizado no campo, serve para detectar a chegada da
mariposa na área-alvo e indicar a época de liberação. A armadilha, bem
como o feromônio sexual, já está disponível no mercado internacional”,
explica o pesquisador.
Controle
O pesquisador da
Embrapa Milho e Sorgo destaca que o correto manejo das pragas de milho
deve considerar necessariamente a possibilidade de liberação do
Trichogramma, tanto para o controle da lagarta-do-cartucho como para o
controle do complexo de Helicoverpa (zea e armigera).
“O alto
índice de parasitismo natural de ovos da lagarta-da-espiga indica a
adaptação da espécie ao agroecossistema milho e a real possibilidade de
uso também para o controle da nova espécie, H. armigera”, relata.
Tribuna do Norte
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